Archives par mot-clé : carta

Carta para freira Paula (Lettre à soeur Paula, em português)

Carta para freira Paula

drapeau-portugal

(tradução em português : Monica POGGI)

 

Paula é uma freira missionária portuguesa da Comunidade dos Servidores do Evangelho. Ela tem 46 anos, mora e trabalha, atualmente, no Japão.

 

Foi uma amiga em comum, que deixou minhas coordenadas com freira Paula. Seu email de « entrada em contato » me pareceu rico de questões pertinentes em relação à posição da Igreja sobre a homossexualidade, tão revelador da ignorância e da febrilidade de muitos crentes, catolicos e praticantes, frente ao desejo homossexual, que eu decidi respondê-lo com demasiado tempo e cuidado.

 

A busca da Verdade desta mulher, bem como sua humidalde me tocaram.

 

Eis aqui seu email e em seguida minha tentativa de resposta :

 
 

« Caro Philippe, como vai ? Prazer em conhecê-lo, mesmo que seja por email. Sou missionária portuguesa da mesma comunidade que a Céline, Servidores do Evangelho. Me chamo Paula e moro no Japão. Acho que a Céline já lhe escreveu  à  propósito do assunto que me interpela neste momento. Vou explica-lo a situação. Se trata de um rapaz japonês que é católoco e que decidiu desde alguns meses deixar seu trabalho para refletir melhor sobre seu futuro. Porque durante o Caminho de Santiago de Compostela, ele se perguntou que talvez Deus o chamava para seguir a vocação sacerdotal. Ele ainda não tem certeza se seu lugar é entre nós, os Servidores do Evangelho, portanto ele nos pediu que o acompanhássemos no seu caminho de discernimento. Nós percebemos que mesmo que ele seja batizado desde sua infância (o que é raro no Japão, ja que a maioria é batizada quando adultos), ele tem dificuldades em confiar nos ensinamentos da Igreja e, às vezes, isso se torna um verdadeiro obstáculo para o aprofundamento da sua vocação. Quando eu o explico que, muitas vezes, é preciso distinguir entre a posição oficial da Igreja e a Pastoral, ele acha muito dificil de entender, porque isso parece hipocrisia .Ultimamente, ele duvidou sobre os ensinamentos da Igreja sobre a homossexualidade. Ele nos disse que não era homossexual e que  não conhece ninguém que fosse. Contudo, ele quer compreender o ensinamento da Igreja à esse respeito, caso contrário ele teme que quando se tornar padre, não consiga pôr em pratica o que a Igreja ensina e acabe por abandonar a vocação religiosa. Neste momento, ele está realmente começando a questionar sua vocação sacerdotal por causa disso. Ele tem lido comentários sobre a « Carta da Congregação para a Doutrina da Fé » sobre a pastoral à respeito de pessoas homossexuais e discorda com o posicionamento. Ele conclui que os comentários não refletem a misericórdia de Jesus. Isso seria portanto uma contradição com o Evangelho. Ele tampouco acha justo, à despeito dos homossexuais, que haja duas opções : a vida matrimonial e a castidade consagrada à Deus ; sabendo que para os homossexuais exista somente a castidade. Posto que eu  não sou homossexual, é verdadeiramente, dificil pra mim julgar. Eu me informei um pouco, mas  não sei qual opinião validar como justa. Confesso minha ignorância neste âmbito e por isso lhe peço ajuda. Já que você é homossexual e católico, será que poderia me responder essas perguntas ? Por exemplo, você está de acordo com : « A inclinação particular da pessoa homossexual constitui, no entanto, uma tendência, mais ou menos pronunciada, em direção à um comportamento, intrinsecamente mau, do posto de vista moral. É a razão pela qual a inclinação em si deve ser considerada como, objetivamente desordenada »? (segundo « Carta da Congregação para a Doutrina da Fé » sobre a pastoral à despeito de pessoas homossexuais). Isto é, para você a inclinação homossexual, é desordenada e você considera o comportamento homossexual intrinsecamente mau ? Para mim, é dificil de entender que sendo a homossexualidade uma estrutura da pessoa, mesmo que não sendo ela génética na maioria dos casos, seja algo de ruim e desordenado. Se eu for sincera, na minha ignorância, eu prefiriria que a homossexualidade pudesse ser mudada com alguma terapia e se tornasse heterosexualidade. Mas segundo o que li, em psicologia isso não é tolerado nem aconselhável mesmo se existe grupos que promovam chamando-a de conversão, correto ? Então, como você entende e vive sua orientação sexual? Com respeito à frase seguinte, da mesma carta, você concorda com esta afirmação? « Na realidade, é preciso também reconhecer naqueles que têm uma tendência homossexual a liberdade fundamental que caracteriza a pessoa humana e dá-lhe a sua dignidade particular. Devido a essa liberdade, como em toda rejeição do mal, o esforço humano, iluminado e sustentado pela graça de Deus, poderá lhes permitir de evitar toda atividade homossexual « Você acredita que uma pessoa homossexual pode evitar a atividade sexual e deve fazê-lo para seu próprio bem? Você concorda com a opção de castidade para todos os cristãos gays? Ou, você pensa que a Igreja deve ser mais aberta? Em que direção? Por exemplo, você pensa que a pastoral católica para os homossexuais deveria apoiar a fidelidade dos casais homossexuais, estáveis? Você tem uma experiência na Igreja, diferente da imagem que nós fazemos ao ler esta carta? Você também poderia me recomendar uma bibliografia que me informaria melhor sobre este assunto? Me permita mais uma pergunta: o que você acha dos casamentos entre homossexuais e a adoção de crianças por parte destes ? Peço desculpas pelo interrogatório. Isso reflete toda a minha ignorância sobre este assunto. Obrigada de todo meu coração pela sua cooperação. Aguardo noticias suas. Deus lhe abençoe. Paula« 

 
 

Querida Paula,

Finalmente, vou tentar responder por escrito ao teu email : ele me inspira muitas respostas que me parecem importantes de desenvolver, porque poderão servir à muitas outras pessoas além de ti. Poderemos discutir, de novo, por telefone se quiseres…e sobretudo se conseguirmos coordenar nossos compromissos.

 

Se não te importa, vou fazer uma espécie de leitura linear do teu e-mail para não perder o ritmo.

 

Me dizes que este rapaz « tem dificuldades em confiar nos ensinamentos da Igreja e às vezes isso se torna um verdadeiro obstáculo face ao aprofundamento de sua vocação ». Com medo de parecer um pouco ríspido e direto desde o início, eu acredito que não seja possível se comprometer no caminho sacerdotal sem amar profundamente a Igreja Católica, sem confiar inteiramente Nela, se a gente se deixa influenciar em demasiado pela reputação da mídia falaciosa e injuriosa que a esmaga com força neste momento (de como a Igreja seria « atrasada » em determinados assuntos, defasada com as mutações sociais e de espírito obtuso). A Igreja Católica é humana, defeituosa, mas apesar de tudo de inspiração divina : ela é portanto santificada, embora sua humanidade seja imunda. E isso não se deve pôr em dúvida ! A confiança requer algo de, necessariamente, arbitrário e cego, mas eu tive a oportunidade de experimentar muitas vezes a precisão da mensagem do Evangelho, mas também do Papa e da instituição do Vaticano. Por exemplo, partindo da homossexualidade, sempre confiei na mensagem um pouco abrupta e áspera do Catecismo da Igreja Católica. Me dizendo que a Igreja tinha razão sem ter ainda entendido o porquê, que eu entenderia mais adiante, que eu devia fazer minha própria investigação para encontrar outras palavras mais pessoais e compensar a brevidade do discurso eclesial. E, finalmente, hoje eu não me arrependo em absoluto de ter sido obstinado na minha cegueira ! Mesmo se eu não vivenciei os fatos como o Papa ou mesmo  São Paulo, mesmo se eu me apropriei da mensagem sobre a homossexualidade para humanizá-la ainda mais, eu  volto para a minha Igreja dando-a razão e sustentado-a em Suas posições. Ela viu com justiça em relação à hossexualidade, dizendo que os atos homossexuais eram intrinsecamente desordenados. Ela viu com justiça, pedindo pelo celibato continente (castidade). Ela viu com justiça expressando Sua desconfiança em relação aos casais homossexuais e ao desejo homossexual. E é alguém como eu, que estudou o assunto à fundo, através quatro livros e que passou 10 anos no mundo associativo homossexual e no « meio das bibas » que diz isso ! Não é um rapaz que exprime um opinião distanciada, por não conseguir assumir  nem sua homossexualidade nem o fato de abordá-la. A confiança na Igreja – que  não é absolutamente sinônimo de ausência de um olhar crítico nem submissão escolar à tudo que se diz –  jamais decepciona porque ela é profundamente justa e surpreendente, acredito. Sim, assumo cada vez mais fazer parte desta família que é a Igreja Católica e fico escandalizado que a maltratemos assim meu avô, porque ele teve coragem de dizer de viva voz o que deve ser a homossexualidade e sobre várias outras coisas além da moral sexual também. É quando a gente lê, diretamente, os textos e o que Bento XVI diz neles, que a gente se dá conta que nada existe da frustração que a mídia retrata. Ele está particularmente “ligado” nas atualidades.

 

« Quando eu o explico que muitas vezes é preciso distinguir entre a posição da Igreja e a Pastoral, ele acha isso dificil de entender, porque parece hipocrisia ». Na verdade, entendo que ele não possa receber este discurso dissociando a teoria da prática, a Igreja do alto e a Igreja de baixo (mesmo se eu percebo qual sentido você deu : o Vaticano é obrigado a impor um quadro moral, um discurso generalista, tudo sendo adaptado em seguida à cada caso, às exceções, às pessoas e às situações humanas imprevistas). É ,amplamente, louvável, que este rapaz se sinta constrangido diante da nossa tibieza ou de nossas próprias tentações de nos dessolidarizar de nossa Instituição para não assumir tudo que ela nos pede ou então da imagem negativa que Ela nos dá. Inconscientemente, isso quer  dizer que ele considera a Unidade da Igreja, que ele busca a Verdade, que ele deseja ardentemente a coerência dos discursos e dos atos, que ele quer desposar a Igreja na sua totalidade ou então nada disso tudo ! Talvez, ele precise conservar uma parte da beleza que contém sua revolta (isto é,  a busca da Verdade) e acatar, por outro lado,  o mistério da obediência. « Obedecer » significa « amar » quando a gente dá sua obediência ao bom mestre.

 

« Ultimamente, ele vem exprimindo dúvidas à respeito dos ensinamentos da Igreja sobre a homossexualidade. Ele nos disse que não é homossexual e que não conhece ninguém que seja. Contudo, ele quer compreender o ensinamento da Igreja à esse respeito, caso contrário ele teme que quando se tornar padre, ele não consiga pôr em pratica o que a Igreja ensina e acabe por abandonar a vocação religiosa. » Eu acho genial que este rapaz almeje tornar-se um ser tão inteiro, que ele ultrapasse suas fronteiras para pisar num terreno que ele não conhece ou pouco (o mundo homossexual), que ele queira estar no centro de um apostolado dentro e próximo da realidade do mundo. Parabenize-o e estimule-o a continuar a « xeretar » à nunca se intimidar ou assinar um contrato onde ele não conheça as cláusulas. Desde que ele aceite que a gente não pode dominar tudo ou adivinhar a inteligência de Deus.

 

«Neste momento, ele está realmente começando a questionar sua vocação sacerdotal por causa disso. Ele leu comentários sobre a « Carta da Congregação para a Doutrina da Fé » sobre a pastoral à respeito de pessoas homossexuais e discorda com o posicionamento. Ele conclui que os comentários não refletem a misericórdia de Jesus. Isso seria portanto uma contradição com o Evangelho. » Entendo a primeira reação dele. Esta aparente falta de abertura, não é tanto do conteúdo quanto da brevidade dos artigos desta « Carta da Congregação para a Doutrina da Fé ». E está claro que a mensagem da Igreja, mesmo se ela não é falsa, deve ser apurada, mais precisa, para ser mais amorosa. Pessoalmente, acho que  ainda não se trata da questão do desejo homossexual em si, nem a sua ligação com  o estupro. O garoto a quem você se refere  não deve esquecer que o amor ao próximo  não é um « sim » sem reservas, mas às vezes um «  não » e uma exigência estabelecida com firmeza. Jesus acolhe sempre o outro sem reservas, mas aos atos humanos com bastante reservas e exigências ! Porque Ele quer amar tanto quanto as pessoas amadas por este Amor. E porque Ele nos responsabiliza, nos põe diante de nossos limites humanos e nossa liberdade. Se a gente não valesse nada aos olhos Dele, Ele  não se daria ao sacrifício de se opor as nossas fantasias, por vezes bem intencionadas, de querer se passar por Ele. Ora, Jesus, não acolheu a mulher adúltera com um sorriso presunçoso e uma abertura de espírito relativista : Ele a ama, profundamente, e é por isso que diz à ela sem rodeios : « Vá e  não peques mais » Ele acolhe a pessoa mas recusa o pecado. Ele formula, de modo explícito, um pedido que condena o ato ainda que reerguendo a alma pecadora. É a razão pela qual eu acho a mensagem da Igreja sobre a homossexualidade exigente mas muito evangélica. É a amargura do cálice oferecido. Ele tampouco acha justo, à despeito dos homossexuais, que haja duas opções : a vida matrimonial e a castidade consagrada à Deus ; sabendo que para os homossexuais exista somente a castidade. Então, agora, sejamos claros nos termos. A castidade não é o equivalente da continência ou abstinência : ela tambem é vivida entre um casal heterossexual ou entre amigos, ou mesmo entre um artista e sua obra de arte. A castidade é essa justa distância que permete à relação, essa resitência à fusão destruidora. Em seguida, o apelo à continência para as pessoas homossexuais, verdade seja dita, ainda é um “esboço”. Eu mesmo, me questionei muito num dado momento, quando comecei a assumir meu desejo homossexual. Me encontrava assistindo  missas onde a condição homossexual não era abordada (tipo « Jornada anual para as vocações » ou o « Domingo para a família). Os padres, em suas homilias, propunham somente duas opções de vocações possíveis para seguir o Cristo : ou um casal de marido e mulher (que  não era adaptado ao meu caso), ou o celibato consagrado vivido no sacerdócio (que tambem  não era adaptado ao meu caso porque os seminários barravam os homessexuais). Naquela época, eu achava isso um pouco reduzido como raciocínio ; eu chorava e gritava dentro de mim ao Senhor : « Mas Senhor qual caminho nos resta, para nós homossexuais ??? Quais saidas de emergência??? Por que eu, tambem, não teria direito de amar, já que você me deu um coração para amar ? » Portanto, essa revolta não me fez abandonar a Igreja (minha fé era forte demais). Ao contrário, ela me deu o ímpeto de me questionar e de desbravar um novo caminho. E de quebra, com o passar do tempo, eu entendi que esta estrada restrita e estreita da continência proposta às pessoas homossexuais não tinha nada de uma condenação do Amor, mas precisamente de um pedido específico que reconhecia nossa singularidade, à nós, pessoas homossexuais, e também que ele representava o mesmo grau de dificuldade de viver que o matrimônio ou sacerdócio : ele implica a mesma renúncia, o mesmo inteiro dom de si, a mesma liberdade. Não é menos um caminho onde se pode realmente amar.  Não é o número de escolhas do qual dispomos que determina nosso grau de liberdade ou nossa felicidade, mas nossa entrega por inteiro à uma única pessoa, seja esta do sexo oposto ou de Jesus. E as pessoas homossexuais  não  são privadas de Jesus : elas são até mesmo, por causa dos limites impostos pelo desejo delas, mais especificamente destinadas para a « melhor parte ». Então porque elas reclamam ou choram por terem sido postas de lado, do modelo do Casal apresentado pela nossa sociedade ultra-erotizada como a única  estrutura do amor verdadeiro ? Pensando bem, a condição homossexual delas, as prepara diretamente e solidamente para as bodas reais celestes. É uma sorte pra elas serem de alguma forma encurraladas por um desejo convicto que elas não escolheram, ao dom total à pessoa de Jesus, já que elas  não são chamadas pela Igreja para viver algo diferente com outra pessoa. A Igreja lhes pede logo de cara, algo de grandioso, de completamente louco, no sentido humano, mas glorioso na Eternidade. Elas deveriam regozijar-se ! Tudo isso, portanto, só tem sentido na luz da fé e da Ressurreição. Não temas, Paula, suas impressões, suas opiniões ou seus juízos fundamentados. A homossexualidade é humana. Mesmo se todo mundo não a experimenta ela continua a pertencer à todo mundo e todos podemos discutir sobre ela – inclusive os padres « heterossexuais » ! Porque a reflexão sobre o Desejo concerne todos nós. A homossexualidade não é um assunto que pertence, especificamente, às pessoas homossexuais, embora a maioria delas finje não ouvir o que o mundo alheio tem de pertinente a dizer sobre os vários limites dos desejos delas. Temos o dever, como cristãos, de nos posicionar. E tenho visto pessoas « heterossexuais » tratar da homossexualidade com muito mais relevância e distância do que aqueles que não vêem um palmo diante do nariz e que se distanciam pouco deles mesmos ! Então, confie em você.

 

« Já que você é homossexual e católico, será que poderia me responder essas perguntas ? Por exemplo, você está de acordo com : « A inclinação particular da pessoa homossexual constitui, no entanto, uma tendência, mais ou menos pronunciada, em direção à um comportamento, intrinsecamente mau, do posto de vista moral. É a razão pela qual a inclinação em si deve ser considerada como, objetivamente desordenada »? (segundo « Carta da Congregação para a Doutrina da Fé » sobre a pastoral à despeito de pessoas homossexuais). Isto é, par o senhor a  inclinação homossexual, é desordenada e o senhor considera o comportamento homossexual intrinsecamente mau ? »  Sim, concordo com esses propósitos. Eles são explícitos, mas corretos. Tendo sido testemunho da desordem interior e exterior que provocava a justificação do desejo homossexual na vida das pessoas que à ele se submetiam cegamente como se se tratasse de um desejo que os definisse totalmente ou que era equivalente ao sentimento entre um   homem e uma mulher que se amam verdadeiramente ou entre um homem continente e Deus, eu posso dizer que concordo. Em seguida, acrescentaria a estes comentários minha análise por experiência própria. Eu identifiquei em obras homossexuais (filmes, romances, biografias, discursos vários sobre o assunto..) todas as ocorrências inconscientes que foram feitas à palavra « desordem » e elas são vastas ! (contudo, elas foram feitas por pessoas que defendiam a autenticidade do desejo homossexual  delas!) Da mesma forma, descrivi a natureza dispersante, isto é mais divisora do que unificadora, do desejo homossexual através do estudo de símbolos recorrentes nas ficções tratando da homossexualidade :rostos cortados em dois, corpos desmembrados, animais de duas cabeças, gêmeos, espelhos rachados,  vínculos esquizofrênicos, etc., enfim todas estas figuras simbólicas da divisão. Pra mim, essas imagens são uma linguagem do desejo homossexual, um impulso que conduz muito mais à dispersão onde a fantasia narcisista e as pulsões fazem a lei, ao invés da Realidade e da Verdade (o que não significa que eles sejam totalmente desconectados dessas duas últimas). Para mim, é dificil de entender que sendo a homossexualidade uma estrutura da pessoa, mesmo que não sendo ela génética na maioria dos casos, seja algo de ruim e desordenado. Se eu for sincera, na minha ignorância, eu prefiriria que a homossexualidade pudesse ser mudada com alguma terapia e se tornasse heterosexualidade. Mas segundo o que li, em psicologia isso não é tolerado nem aconselhável mesmo se existe grupos que promovam chamando-a de conversão, correto ? É verdade, que não é recomendável classificar a homossexualidade no campo da genética ou doenças, já que ela não é uma escolha pessoal. No entanto, mesmo se não tenho a pretensão de decidir entre o inato e o adquirido (para mim a homossexualidade continua sendo um enigma que não deve ser totalmente elucidado, à fim de permitir àquele que a vive a liberdade plena – para não transformá-la em destino – para não fazer dela uma patologia nem essencializar o desejo homossexual de forma à não dá-lo uma importância exagerada em relação ao individuo homossexual), tenho constatado que o desejo homossexual foi ao mesmo tempo a marca de uma ferida relacionada à um contexto de violência real (estupro, desprezo de si, desejo de ser o centro das atenções, isolamento, etc.) e também um revelador de coincidências e de terrenos férteis (determinantes ou não) marcados por uma ausência de desejo. Então, é claro que é preciso ser cauteloso quanto às terapias coletivas e à todas essas seitas que estigmatizam os “gays” e os reduzem ao seu desejo homossexual para melhor privá-los deste e assim criar a ilusão de uma milagrosa conversão à heterossexualidade. Pessoalmente, não acredito que isto seja possivel. Em parte porque não considero a orientação homossexual como determinante da integridade do individuo que a vive, nem como um mal absoluto. Além do mais, o que acontece à nivel da sexualidade é muito misterioso e profundo : acredito na mudança de orientação somente quando se trata de bissexuais. Tudo depende da profundidade da dominância homossexual em nós. Em suma, a ferida homossexual continua a ser um enigma do qual  não tenho a chave. Depois, todos nós temos algo em nós a ser curado … e é claro que o desejo homossexual, se a gente se entrega à ele, fere e indica uma fragilidade que deve ser levada em conta. Tenho visto, ao meu redor,  muitos homossexuais frustrados, temerosos, tímidos, com ódio de si, misantropos (declinado em misoginia ou misandria), baixa estima. Isto  não é específico do desejo homossexual (existem outros desejos dispersantes) mas ele é marcado por esta desordem.

 

« Então, como você entende e vive sua orientação sexual? » No momento em que escrevo estas linhas, tento vivê-la na continência. Depois de 29 anos de celibato completo, em seguida um ano e meio de experimentação da relação carnal homossexual com rapazes, retorno  lentamente mas seguramente à continência. De qualquer forma, mais confiante. Só o tempo e a alegria me confirmarão esta promessa. Mas, por ora, parece estar no bom caminho! Meu coração está ardente e mais ardente do que antes!

 

« Com respeito à frase seguinte, da mesma carta, você concorda com esta afirmação? ‘ »Na realidade, é preciso também reconhecer naqueles que têm uma tendência homossexual a liberdade fundamental que caracteriza a pessoa humana e dá-lhe a sua dignidade particular. Devido a essa liberdade, como em toda rejeição do mal, o esforço humano, iluminado e sustentado pela graça de Deus, poderá lhes permitir de evitar toda atividade homossexual « Você acredita que uma pessoa homossexual pode evitar a atividade sexual e deve fazê-lo para seu próprio bem? Você concorda com a opção de castidade para todos os cristãos gays? Ou, você pensa que a Igreja deve ser mais aberta ? Em que direção ? Por exemplo, você pensa que a pastoral católica para os homossexuais deveria apoiar a fidelidade dos casais homossexuais, estáveis? » Sim, concordo com a frase citada acima, porque acredito na força da ação de Deus em nós. Em seguida, esta ação não é nem espetacular (a gente não pede à um ferido de correr os 100 metros !), nem eufórica, nem um chamado ao matrimônio forçado, nem um encorajamento ao abandono do desejo homossexual. Pelo contrário, quanto mais nos aproximamos sem temor do desejo homossexual e do mundo gay para conhecê-lo e entendê-lo como funcionam, menos a gente corre o risco de se confundir com ele e de deixá-lo conduzir nossa existência. Se não, é evidente que incentivo o respeito de casais homossexuais e apóio a fidelidade entre eles sem se iludir quanto à sua fragilidade objetiva. Não há a idealizar o amor homossexual, porque ele possui limites (e não é só porque a sociedade o entrava ; é o desejo homossexual que, por natureza, é fraco e violento). Também não se deve retirar o qualificativo de « amor », porque mesmo se este é limitado, ele é, em raras ocasiões, o lugar de trocas de diferenças, de ternura, de compromisso sincero que a gente não deve menosprezar.

 

« Você tem uma experiência na Igreja, diferente da imagem que nós fazemos  ao ler esta carta? » Confesso que até agora, não encontrei nenhum casal homo que me entusiasme verdadeiramente (e olha que encontrei muitos!) Mas nunca se deve dizer nunca. Meu ceticismo não é obtuso. Se um dia me deparar com um casal homo que me pareça sólido e feliz à longo prazo, não hesitarei em me declarar. Diria que atualmente « pago pra ver » mesmo se ainda não estou convencido da força do amor homossexual  e que sei melhor por quê. Do ponto de vista da experiência da Igreja, propriamente dito, não encontrei verdadeiramente pessoas homossexuais que vivam uma combinação harmoniosa entre fé e homossexualidade : estejam elas tentando constituir uma « gay Church » mantendo uma distância da Igreja-Instituição (como na associação cristã David and Jonathan), seja eu cruzando com alguns rapazes isolados que reprimem sua homossexualidade na prática religiosa na qual eles calam suas inclinações (casos muito raros… E nesta penca há alguns eclesiásticos…)  Mas confesso que não conheci, até hoje, nenhum rapaz como eu que assumisse publicamente, ao mesmo tempo, sua pratica religiosa e sua homossexualidade.

 

No que concerne o acolhimento das pessoas homossexuais, ainda acho os padres, tímidos, até temerosos, em relação ao assunto. Isso os torna desajeitados, com tendência a julgar-nos.  A Igreja católica, neste âmbito, ainda sente dificuldades em abordar o assunto com determinação. Seria necessário uma formação, um discurso, uma voz ativa, sobre a qual se basear, para evitar as derrapagens e o distanciamento de determinadas pessoas da Igreja  por causa da questão homossexual.

 

« Você também poderia me recomendar uma bibliografia que me informaria melhor sobre este assunto? » Eu te recomendaria Xavier Thévenot, Jacques Arènes ou ainda Xavier Lacroix ; ou num registro mais profano e psicanálitico, Jean-Pierre Winter. Para mim são os melhores ! E é claro, meu próprio livro…;-)

 

« Me permita mais uma pergunta: o que você acha dos casamentos entre homossexuais e a adoção de crianças por parte destes ? » Justamente, falo disso nos meus ensaios. Em poucas palavras, não sou favorável nem ao casamento nem à adoção de crianças por parte de casais homossexuais. Nos dois casos é em nome do respeito da diferença dos sexos (que consolida o casamento do amor verdadeiro) e da realidade da família, que avanço esta opinião. Não basta que as crianças existam fisicamente ou que um casal seja constituído de um homem e uma mulher, para que o amor exista. É necessário que a diferença de sexos esteja presente mas também que ela seja coroada pelo desejo verdadeiro e livre entre dois seres diferentemente sexuados e em seguida podemos falar da chegada dos filhos, do amor e finalmente da família.

 

« Peço desculpas pelo interrogatório. Isso reflete toda a minha ignorância sobre este assunto. Obrigada de todo meu coração pela sua cooperação. Aguardo noticias suas. Deus lhe abençoe. Paula« 

 

Paula, gostaria de lhe agradecer calorosamente de me ter proporcionado esta ocasião, através seu email cheio de interrogações, de abordar problemáticas centrais sobre a homossexualidade. Suas perguntas denotam em você uma fé viva, justa, afiada, em movimento fértil. É ótimo ! Você fez as perguntas certas e me permitiu pôr palavras naquilo que me habita desde muito tempo  e de forma diferente do que imaginava.

 

Há dois anos, um padre idoso e amigo de minha família, me sugeriu, após leitura de meu livro, de escrever uma cartilha propondo um guia prático para o acolhimento de homossexuais na Igreja.

 

Tive a impressão que graças ao seu questionário, o desejo dele se realizou. É impressionante perceber o quanto o tema homossexual é fator de discórdia, de divisões internas/externas e de afastamento da Igreja. Já tinha até observado isso entre os jovens adultos ainda presentes em nossas igrejas. Você, portanto, tocou num assunto crucial. Obrigada à você.

 

De quebra, vou publicar este email que lhe envio e no site internet do meu livro. Você me autorizaria ? Que Deus, que é onipotência de Amor, lhe abençoe. Seu (desde já) irmão. Philippe.

 

Philippe Ariño

Carta a sor Paula (Lettre à soeur Paula, en español)

Carta a Sor Paula

 

Drapeau espagnol

(en español – traducción : Philippe ARIÑO)

 
 

Paula es una hermana misionera portuguesa de la Comunidad de las Servidoras del Evangelio. Ella tiene 46 años, vive y trabaja actualmente en Japón. Es una amiga común quien nos puso en contacto, y le dejó mi dirección. Su correo electrónico me pareció tan rico en cuestiones relativas a la posición de la Iglesia sobre la homosexualidad, tan revelador de la ignorancia y la febrilidad de muchos creyentes católicos practicantes frente al deseo homosexual, que decidí contestarle sin prisa. La búsqueda de la verdad de esta mujer, su humildad también, me ha tocado la fibra.

 

En primer lugar, aquí está su correo electrónico y mi intento de respuesta :

 
 

« Estimado Felipe,

¿ Cómo está ? Es un placer conocerle, aunque sea por e-mail. Soy una misionera portuguesa de la misma comunidad que Céline, los Servidores del Evangelio. Mi nombre es Paula. Vivo y trabajo en Japón. Creo que Celine ya le ha escrito sobre el tema del cual quisiera sus consejos. Ante todo, le agradezco por su disponibilidad. Voy a explicarle un poco la situación. Se trata de un mozo japonés que es católico y que desde algunos meses ha decidido dejar su trabajo para pensar mejor en su porvenir, porque por el camino de Santiago, se preguntó si tal vez Dios le llamaba a seguirlo como sacerdote. Aún no está seguro de si tiene su lugar con nosotros, los Servidores, pero él nos pidió que le acompañáramos en su proceso de discernimiento. Nos damos cuenta de que, aunque sea bautizado desde niño (a diferencia de la mayoría de los católicos japoneses que reciben el bautismo de adultos), le cuesta confiar en las enseñanzas de la Iglesia, y a veces eso se convierte en un verdadero obstáculo para la profundización de su vocación. Cuando le explico que a menudo hay que distinguir entre la trayectoria oficial de la Iglesia y la acción pastoral, le resulta muy difícil entenderlo, porque lo interpréta como una hipocresía. Últimamente, ha expresado sus dudas en cuanto al discurso de la Iglesia sobre la homosexualidad. Nos dice que no es homosexual y que no conoce a nadie que lo sea. Sin embargo, quiere comprender el discurso de la Iglesia a propósito de este tema ; si no, teme que cuando sea sacerdote, quizás no pueda ser capaz de poner en práctica lo que defiende la Iglesia, y acabe por abandonar el camino del sacerdocio católico. Por el momento, está poniendo realmente en tela de juicio su vocación a causa de este tema. Leyó comentarios sobre la Carta de la Congregación para la Doctrina de la Fe, que trata de la acción pastoral respecto a las personas homosexuales, y no está de acuerdo de este mensaje. Él piensa que éste no es un mensaje de misericordia, como el de Jesús. Sería una contradicción con el Evangelio. También piensa que no es justo que para los heterosexuales haya dos opciones: la vida matrimonial y la castidad consagrada a Dios, pero para los homosexuales sólo hay la castidad. Puesto que yo no soy lesbiana, me resulta realmente difícil juzgar. Busqué unas cuantas informaciones, pero no sé qué opinión aceptar como justa. Confieso mi ignorancia sobre el tema y por eso le pido su ayuda. Dado que es usted homosexual y católico, ¿ aceptaría contestar algunas preguntas ? Por ejemplo, ¿ qué opina de la frase siguiente ? : «La inclinación homosexual, aunque no sea en sí misma pecaminosa, debe ser considerada como objetivamente desordenada, ya que es una tendencia, más o menos fuerte, hacia un comportamiento intrínsecamente malo desde el punto de vista moral» (según La Carta de la Conferencia Episcopal : Matrimonio, familia y uniones homosexuales, 1994) Es decir, ¿ la inclinación homosexual, para usted, es desordenada, y se puede considerar el comportamiento homosexual intrínsecamente malo ? Para mí es difícil entender que, siendo la homosexualidad una estructura de la persona, aunque no sea de origen genético en la mayoría de los casos, sería/es algo malo y desordenado. Si soy sincera, en mi ignorancia, yo preferiría que la homosexualidad pudiera cambiarse mediante alguna terapia y convertirse en heterosexualidad. Pero según lo que leí, en psicología, no lo aceptan ni lo aconsejan, aunque haya grupos que alentan el cambio llamándolo ‘conversión’, ¿ eso es ? Entonces, ¿ cómo comprende y vive su orientación sexual ? Con respecto a la frase siguiente en la misma carta, ¿ está de acuerdo con esta afirmación ? « En realidad, también debemos reconocer a aquellos que tienen una tendencia homosexual la libertad fundamental que caracteriza a la persona humana y que le da su dignidad especial. Debido a esta libertad, como cualquier rechazo del mal, el esfuerzo humano, aclarado y sostenido por la gracia de Dios, podrá permitirles evitar la actividad homosexual. ¿ Cree usted que una persona homosexual puede evitar la actividad sexual y debe hacerlo por su bien ? ¿ Está de acuerdo con la opción de la castidad para todos los homosexuales cristianos ? O también, ¿ piensa que la Iglesia debería ser más abierta ? ¿ En qué sentido ? Por ejemplo, ¿ cree que la acción pastoral católica a favor de los homosexuales debería orientarse hacia el apoyo de la fidelidad de las parejas homosexuales estables ? ¿ Conoce usted una experiencia eclesiástica diferente de la imagen que tenemos al leer únicamente aquella Carta ? ¿ Me puede aconsejar también una bibliografía que me permita interarme mejor del tema ? (sea sobre la homosexualidad, sea sobre el punto de vista de la Iglesia al respecto). Con permiso, aún tengo otra pregunta : ¿ qué piensa de los matrimonios entre personas homosexuales y de la adopción de niños por su parte ? Disculpe porque me doy cuenta de que le acabo de someter una verdadera entrevista. Eso muestra cuan grande es mi ignorancia en cuanto a este tema. Le agradezco de todo corazón por su cooperación. A la espera de noticias suyas, que Dios le bendiga. Paula »

 
 

Estimada Paula,

 

Finalmente, voy a tratar de contestar por escrito a tu correo : me inspira un montón de respuestas que me parecen importantes de  desarrollar, ya que podrán ser útiles para muchas más personas que tú. Podremos volver a hablar por teléfono si quieres … si por lo menos logramos coordinar nuestros calendarios ! ^^

 

Si quieres, voy a hacer una especie de lectura lineal de tu correo para no perderme nada.

 

Me escribes que a este muchacho « le cuesta confiar en las enseñanzas de la Iglesia, y a veces eso se convierte en un verdadero obstáculo para la profundización de su vocación ». A riesgo de parecer un poco duro y directo desde el principio, te diría que creo que uno no puede emprender un camino hacia el sacerdocio si no ama profundamente a la Iglesia Católica, si de antemano no confía en Ella en su totalidad, si se deja demasiado inspirar e influenciar por la fama engañosa y vergonzosa que los medios de comunicación dan de Ella con fuerza actualmente (por ejemplo, se dice que la Iglesia sigue siendo un poco « anticuada » a propósito de ciertos temas, tiene « retraso », está desconectada de los « progresos » sociales, tiene una mentalidad « cerrada »). La Iglesia Católica es humana, imperfecta, pero a pesar de todo inspirada por Dios : pues es santa, pese a su jodida humanidad. Y esto, ¡ no hay que ponerlo en duda ! La confianza es algo necesariamente arbitrario y ciego, pero ya he tenido la oportunidad de experimentar muchas veces la rectitud del mensaje del Evangelio, y también del Papa y de la institución vaticana. Por ejemplo, en cuanto al tema de la homosexualidad, siempre he confiado en el mensaje un poco áspero y seco del Catecismo de la Iglesia Católica al respecto, diciéndome que la Iglesia tenía razón sin que supiera todavía por qué, que lo entendería más tarde, que tenía que hacer mi propia investigación para encontrar otras palabras más personales y compensar la brevedad del discurso eclesiástico. Y, al fin y al cabo, a día de hoy, ¡ no me arrepiento en absoluto de haber sido tozudo en mi ceguera ! Aunque no me expresaría exactamente como el Papa o incluso un San Pablo, aunque me he apropiado su mensaje sobre la homosexualidad para humanizarlo más, vuelvo hacia mi Iglesia dándole la razón y sosteniéndola en sus decisiones. Acerca de la homosexualidad, Ella siempre ha hablado con acierto Cuando dice que los actos homosexuales son intrínsecamente desordenados. Tiene toda la razón de pedir el celibato continente. Tiene toda la razón de expresar su recelo a propósito de las parejas homosexuales y del deseo homosexual. ¡ Y es alguien como yo, que ha estudiado el tema a fondo a través de cuatro libros y que ha pasado 10 años en el mundo asociativo gay y en el « ambiente homosexual », quien lo dice ! No soy un chico quien expresa un punto de vista lejano, porque no aceptaría su homosexualidad ni el hecho de acercarse a ella. La confianza en la Iglesia – que no es sinónima en absoluto de ausencia de mirada crítica, ni de sumisión dócil a todo lo que está dicho – no defrauda nunca, porque La creo profundamente justa y sorprendente. Sí, voy asumiendo cada día más de formar parte de esta familia que es la Iglesia católica, y me escandalizo de ver que maltratan así a mi abuelo, porque tiene el valor de decir de viva voz lo que se ha de saber sobre la homosexualidad, y muchos más temas de moral sexual por otro lado. Al leer lo que dice realmente Benedicto XVI, uno cae en la cuenta de que no es para nada el hombre frustrado del cunal algunos medios de comunicación hablan. Está especialmente al tanto de nuestras realidades contemporáneas.

 

« Cuando le explico que a menudo hay que distinguir entre la trayectoria oficial de la Iglesia y la acción pastoral, le resulta muy difícil entenderlo, porque lo interpréta como una hipocresía. » Comprendo que no pueda acoger del todo el discurso que separa teoría y práctica, Iglesia superior e Iglesia inferior (aunque veo muy bien cómo lo has dicho : el Vaticano bien tiene que proponer un marco moral, un discurso generalista, adaptándolo luego a cada situación, a las excepciones, a las personas, a las situaciones humanas imprevistas). La resistencia de este muchacho lo honra. ¡ Tiene razón de no aceptar nuestras tibiezas y tentaciones de distancia con nuestra propias Institución para no asumir todo lo que nos pide o la mala fama que su defensa nos daría ! Al menos, eso significa que inconscientemente le importa mucho la Unidad de la Iglesia, que está en busca de la Verdad, que desea de manera tenaz la coherencia entre los discursos y los actos, que quiere abrazar la Iglesia ¡ completamente o para nada ! A lo mejor tiene que conservar la parcela de belleza que contiene su revuelta (a saber la búsqueda de la Verdad) y consentir por otro lado en el misterio de la obediencia. « Obedecer » significa « amar » cuando se da su obediencia al buen Maestro.

 

« Últimamente, ha expresado sus dudas en cuanto al discurso de la Iglesia sobre la homosexualidad. Nos dice que no es homosexual y que no conoce a nadie que lo sea. Sin embargo, quiere comprender el discurso de la Iglesia a propósito de este tema ; si no, teme que cuando sea sacerdote, quizás no pueda ser capaz de poner en práctica lo que defiende la Iglesia, y acabe por abandonar el camino del sacerdocio católico. » Me parece estupendo que este chico quiera ser tan entero, que se arriesgue también en un terreno que a priori no conoce mucho (el mundo homosexual), que anhele estar en el corazón de un apostolado dentro y cerca de las realidades de nuestro mundo. Lo felicitarás y lo animarás a que siga con fisgar, a que no se deje nunca torear a firmar un contrato sin conocer todas sus cláusulas. A partir del momento en que acepta que no se puede controlar o adivinarlo todo de la inteligencia de Dios…

 

« Por el momento, está poniendo realmente en tela de juicio su vocación a causa de este tema. Leyó comentarios sobre la Carta de la Congregación para la Doctrina de la Fe, que trata de la acción pastoral respecto a las personas homosexuales, y no está de acuerdo de este mensaje. Él piensa que éste no es un mensaje de misericordia, como el de Jesús. Sería una contradicción con el Evangelio. » Entiendo su primera reacción. Ahora bien, aquella impresión de falta de amplitud de miras estriba no tanto en el contenido como en la brevedad de los artículos de la Carta de la Congregación para la Doctrina de la Fe. Y está claro que el mensaje de la Iglesia, aunque no es falso, debe refinarse, ser más preciso, para ser más acogedor y amable. Personalmente encuentro que no se habla todavía bastante de la cuestión del deseo homosexual en sí mismo, ni de su relación con la violación. Por lo tanto, le cuesta dar la talla al discurso bienpensante de la apertura incondicional al otro. El chico del cual me hablas ne tiene que perder de vista que el amor al prójimo no es un « sí » sin reservas, pero a veces un « no » y una exigencia enunciada con firmeza. Jesús siempre acoge al otro sin reservas, ¡ pero los actos humanos con muchas reservas y exigencia ! Porque a Él le importa el Amor tanto como a las personas amadas por Éste. Y puesto que nos responsabiliza, nos pone frente a nuestros límites humanos y nuestra libertad. Si no importáramos para Él, no se molestaría para oponerse a nuestras ilusiones – a veces bien intencionadas – de hacernos pasar por Él. Pero Jesús no acoge a la mujer adúltera con ojitos de miel, una sonrisa remilgada, y un amplitud de miras relativista : Él la ama profundamente, y por eso también le dice sin rodeos : « Vete y no peques más. » Acoge a la persona, pero no acepta el pecado. Hace una petición explícita, que condena el acto mientras que pone de pie al alma pecadora. Por eso encuentro que el mensaje de la Iglesia sobre la homosexualidad es exigente, pero muy evangélico. Es el amargor de la copa derramada.

 

« También piensa que no es justo que para los heterosexuales haya dos opciones: la vida matrimonial y la castidad consagrada a Dios, pero para los homosexuales sólo hay la castidad. » Primero, expliquémonos con los términos. La castidad no es equivalente a la abstinencia o la continencia : también se ha de vivir en una pareja hombre-mujer, o entre amigos, e incluso entre un artista y su obra de arte, porque la castidad es esta justa distancia que permite la relación, esta resistencia a la fusión destructiva. Luego, es cierto que la petición de la continencia para las personas homosexuales es un poco difícil de beber de un trago. A mí también, me dio quebraderos de cabeza, sobre todo cuando empezaba a aceptar la realidad de mi deseo homosexual. Me encontraba en misas dominicanas durante las cuales la condición homosexual no era mencionada en absoluto (días especiales de ésos como « La Jornada de las Vocaciones » o « La Misa por las Familias »…). Durante las homilías, los sacerdotes no proponían más que dos opciones de vocaciones posibles para seguir a Cristo : sea la pareja casada (que yo no podía vivir), sea el celibato consagrado vivido en el sacerdocio (que no podía vivir tampoco, ya que la entrada en los seminarios era bloqueada para las personas homosexuales). Esta forma de pensar me pareció un poco restringida y espantosa ; en aquella época (a los 20 años), casi lloraba, y gritaba interiormente hacia el Señor : « Pero Señor, ¿ qué camino nos queda para nosotros, los homosexuales ? ¿¿¿ Qué salidas de emergencia ??? ¿ Por qué no tendría derecho al amor, yo también, ya que me diste un corazón para amar ? » Sin embargo, esta revuelta no me hizo abandonara a la Iglesia (mi fe era demasiado fuerte). Al contrario, me dio el impulso para plantearme las buenas preguntas e inaugurar un nuevo camino. Y encima, con el paso del tiempo, iba comprendiendo que aquel sendero limitado y estrecho de la continencia, propuesto a las personas homosexuales, no era ninguna condenación del Amor, sino que era justamente una petición específica que reconoce nuestra singularidad a nosotras, personas homosexuales, y también que no era ni más fácil ni más difícil de vivir que el matrimonio o el sacerdocio : la continencia entraña la misma renuncia, el mismo don total de sí mismo, la misma libertad. No deja de ser un camino por el cual se puede amar verdaderamente. No es el número de elecciones propuestas que determina nuestro grado de libertad y nuestra felicidad, pero sí nuestra elección completa de una sola persona, sea una persona del sexo supuestamente « opuesto », sea Jesús. Y las personas homosexuales no son privadas de Jesús : a causa de los límites impuestos por su deseo sexual, al fin y al cabo, quizás sean específicamente más orientadas hacia « la buena Parte ». Entonces, ¿ por qué deberían quejarse, llorar por ser marginadas del modelo de la Pareja presentado por nuestra sociedad ultra-erotizada como la única estructura de amor verdadero ? En cierta manera, su condición homosexual les prepara de forma más directa y más firme a las Bodas celestes. Si saben atraparla, es una suerte para ellas verse obligadas, a causa de un deseo interior que no han elegido, a entregarse a sí mismas completamente a la persona de Jesús, dado que la Iglesia no les propone vivir otra cosa con otra persona. La Iglesia les pide en seguida algo tremendo, totalmente surrealista humanamente hablando, pero glorioso en la Eternidad. ¡ Tendrían que alegrarse de esta Buena Nueva ! Sin embargo, ésta cobra todo su sentido únicamente a la luz de la Fe y de la Resurrección.

 

« Puesto que yo no soy lesbiana, me resulta realmente difícil juzgar. Busqué unas cuantas informaciones, pero no sé qué opinión aceptar como justa. Confieso mi ignorancia sobre el tema y por eso le pido su ayuda. » No tengas miedo, Paula, de tus impresiones, de tus opiniones, o juicios razonados. La homosexualidad es humana. Aunque todos no la sienten físicamente, sigue perteneciendo a todo el mundo, y cualquier persona puede hablar de ella – ¡ incluso los sacerdotes « heterosexuales » ! – porque la reflexión sobre el Deseo concierne a cada uno de nosotros. La homosexualidad no es un tema que pertenece específicamente a las personas homosexuales, aun cuando la mayoría de ellas lo hagan creer para no escuchar las verdades que el mundo exterior les revela en cuanto a los numerosos límites de su tendencia sexual. Es nuestro deber, como cristianos, de posicionarnos. ¡ Y he visto a gente supuestamente « heterosexual » tratar de homosexualidad con más pertinencia y mayor distancia que los que tienen los ojos cerrados y ninguna perspectiva sobre su propia condición homosexual ! Así que tú, ¡ tranquila ! 🙂

 

« Dado que es usted homosexual y católico, ¿ aceptaría contestar algunas preguntas ? Por ejemplo, ¿ qué opina de la frase siguiente ? : «La inclinación homosexual, aunque no sea en sí misma pecaminosa, debe ser considerada como objetivamente desordenada, ya que es una tendencia, más o menos fuerte, hacia un comportamiento intrínsecamente malo desde el punto de vista moral» (según La Carta de la Conferencia Episcopal : Matrimonio, familia y uniones homosexuales, 1994) Es decir, ¿ la inclinación homosexual, para usted, es desordenada, y se puede considerar el comportamiento homosexual intrínsecamente malo ? » Sí, estoy de acuerdo con esas palabras. Desde luego, son explícitas, pero rectas. Por haber sido testigo del desorden interior y exterior que provocaba la justificación del deseo homosexual en la vida de las personas que se sometían ciegamente a ello como si fuera un deseo que las definía por completo, y que fuera equivalente al amor entre una mujer y un hombre que se aman verdaderamente o entre un hombre continente y Dios, puedo decir que subscribo a éstas. Luego, me gustaría añadir al respecto mi propio estudio de terreno. He inventariado en las obras homosexuales (películas, novelas, biografías, discursos de muchos individuos homosexuales…) todas las citaciones inconscientes de la palabra « desorden », ¡ y hay muchas ! (y contra toda previsión, ¡ fueron hechas por personas que defendían la autenticidad de su deseo homosexual !) También he descrito la naturaleza dispersante, es decir más divididora que unificante, del deseo homosexual, a través del estudio de los símbolos recurrentes en las ficciones que tratan de la homosexualidad : las caras cortadas por la mitad, los animales con dos cabezas, los cuerpos quebrados, los gemelos, los siameses, los espejos rotos, los dobles esquizofrénicos, etc., todas estas figuras simbólicas de la división. Para mí, aquellas imágenes son el lenguaje del deseo homosexual, un impulso que conduce más a la dispersión y a actos donde dominan la fantasía narcisista y las pulsiones en vez de la Realidad y la Verdad (lo cual no significa que estén siempre totalmente desconectadas de las dos últimas).

 

« Para mí es difícil entender que, siendo la homosexualidad una estructura de la persona, aunque no sea de origen genético en la mayoría de los casos, sería/es algo malo y desordenado. Si soy sincera, en mi ignorancia, yo preferiría que la homosexualidad pudiera cambiarse mediante alguna terapia y convertirse en heterosexualidad. Pero según lo que leí, en psicología, no lo aceptan ni lo aconsejan, aunque haya grupos que alentan el cambio llamándolo ‘conversión’, ¿ eso es ? » Es cierto que no es deseable poner la homosexualidad en el campo de la genética o de la enfermedad por no ser simplemente una elección. Sin embargo, aunque no pretendo zanjar entre lo innato y lo adquirido (porque según yo, la homosexualidad sigue siendo una enigma que no hay que dilucidar por completo para dejar al individuo que la siente una libertad máxima, para no transformarla en destino, para no « patologizarla » ni esencializar el deseo homosexual y darle demasiada importancia en detrimento de la persona homosexual), he comprobado que el deseo homosexual era a la vez el indicio de una herida relacionada con un contexto de violencia real (violación, incesto, auto-desprecio, deseo de ser un objeto, aislamiento amistoso, etc.) y también la señal de coincidencias y de terrenos con futuro (determinantes o no), ambos caracterizados por una falta de deseo. Claro, hay que tener mucho cuidado con las terapias de grupo y todas esas sectas que estigmatizan a « los » homosexuales y los reducen a su deseo homosexual para quitárselo mejor y simular una conversión milagrosa a la « heterosexualidad ». Personalmente, no creo en la eficacia de aquellos métodos, entre otras cosas porque no considero la orientación homosexual como un factor determinante de la totalidad de la persona que la siente, ni como el mal absoluto. Además, lo que se juega a nivel de la sexualidad es muy misterioso y profundo : no creo que se pueda cambiar por completo cuando uno es homosexual, salvo los que se sienten bisexuales. Depende de la profundidad del arraigamiento de la homosexualidad en nosotros. En resumen, la herida homosexual sigue siendo un enigma con muchas incógnitas, incluso para mí. Dicho esto, todos tenemos algo en nosotros que curar … y está claro que el deseo homosexual, a partir del momento en que uno se entrega a él, hiere, e una fragilidad que hay que tomar en cuenta. He visto en las personas homosexuales que me rodean mucha frustración, miedo, timidez, odio contra sí mismas, misantropía (declinado en misoginia o androfobia), falta de confianza. Esto no es específico del deseo homosexual (existen otras clases de deseos dispersantes), pero el deseo homosexual está marcado por este desorden.

 

« Entonces, ¿ cómo comprende y vive su orientación sexual ? » En el momento en que te escribo estas líneas, trato de vivir la continencia. Después de 29 años de celibato total, y luego un período de un año y medio de experimentación de la relación homosexual carnal con hombres, vuelvo poco a poco a la continencia pero con más firmeza y pureza. En todo caso, con más seguridad. Esta promesa tiene que ser confirmada a largo plazo y por la alegría. Pero de momento, ¡ va por buen camino ! ¡ Mi corazón arde, y es más ardiente que antes !

 

« Con respecto a la frase siguiente en la misma carta, ¿ está de acuerdo con esta afirmación ? « En realidad, también debemos reconocer a aquellos que tienen una tendencia homosexual la libertad fundamental que caracteriza a la persona humana y que le da su dignidad especial. Debido a esta libertad, como cualquier rechazo del mal, el esfuerzo humano, aclarado y sostenido por la gracia de Dios, podrá permitirles evitar la actividad homosexual. ¿ Cree usted que una persona homosexual puede evitar la actividad sexual y debe hacerlo por su bien ? ¿ Está de acuerdo con la opción de la castidad para todos los homosexuales cristianos ? O también, ¿ piensa que la Iglesia debería ser más abierta ? ¿ En qué sentido ? Por ejemplo, ¿ cree que la acción pastoral católica a favor de los homosexuales debería orientarse hacia el apoyo de la fidelidad de las parejas homosexuales estables ? » Sí, estoy de acuerdo con la frase citada más arriba, porque creo en el poder de la acción de Dios en nosotros. Ahora bien, esta acción no es ni espectacular (¡ no se pide a una persona herida que corra los cien metros !), ni eufórica, ni una promoción para el matrimonio forzado, ni una incitación al abandono del deseo homosexual. Al contrario, cuanto más uno se acerca sin temor a su deseo homosexual y al « ambiente homosexual » para reconocerlos y entender cómo funcionan, tanto menos riesgos existen para él de confundirse con éste y de dejarlo dirigir su vida. Pero bueno, obviamente, alento al respeto de las parejas homosexuales y al apoyo de la fidelidad en su seno, sin que por ello nos engañemos sobre su fragilidad objetiva. No se ha de idealizar el amor homosexual, ya que tiene muchos límites (y no sólo porque la sociedad le pondría trabas ; es el deseo que es, por naturaleza, débil y violento). Tampoco hay que quitarle el calificativo de « amor », porque aunque sea un amor limitado, puede ser a veces el lugar del intercambio de diferencias, de ternura, de compromiso sincero, que no podemos dejar de lado.

 

« ¿ Conoce usted una experiencia eclesiástica diferente de la imagen que tenemos al leer únicamente aquella Carta ? » Confieso que, hasta el día de hoy, no he encontrado nunca a una pareja homosexual que me entusiasmó realmente (¡ y a parejas homosexuales, conozo muchísimas !). Pero jamás hay que jamás decir. Mi escepticismo no es definitivo. Si un día me toca encontrar a una pareja homosexual que me parece sólida y feliz a la larga, no dudaré en expresarlo. La única cosa que puedo decir ahora al respecto, es : « Lo veré más adelante », aunque sigo sin estar convencido de la fuerza del amor homosexual, y sé cada vez mejor por qué.

 

Desde el punto de vista de mi experiencia de Iglesia, no he encontrado verdaderamente a personas homosexuales que vivían una combinación armoniosa entre fe y homosexualidad : sea trataban de formar una Iglesia gay mientras se alejaban de la Iglesia institucional (como es el caso con la asociación cristiana David y Jonathán en Francia), sea me encontré con chicos aislados que reprimían su homosexualidad en una práctica religiosa en la que callaban sus tendencias (casos muy raros… y entre ellos, hay algunos eclesiásticos…). Pero confieso que, a día de hoy, no conozco a ningún hombre como yo, que asume de manera pública tanto su fe practicante católica como su homosexualidad.

 

Relativo a la acogida de las personas homosexuales en las iglesias, encuentro a los sacerdotes aún demasiado tímidos, timoratos, al respecto. Su actitud de miedo les hace a menudo torpes, incluso un poco condenadores. En el terreno, a la Iglesia católica todavía le cuesta tomar al toro homosexual por los cuernos. Haría falta una formación, un resumen completo, una palabra franca en la que basarse, para procurar no meter la pata y evitar el distanciamiento de ciertas personas de la Iglesia por la única razón de la homosexualidad.

 

« ¿ Me puede aconsejar también una bibliografía que me permita interarme mejor del tema ? (sea sobre la homosexualidad, sea sobre el punto de vista de la Iglesia al respecto). » Sólo puedo aconsejarte la lectura de intelectuales y teólogos tales como Xavier Thévenot, Jacques Arènes, Xavier Lacroix, o en un registro psicoanalítico y profano, Jean-Pierre Winter, muy sólido también. Es lo mejor que he encontrado. Y, por supuesto, mi libro … 😉

 

« Con permiso, aún tengo otra pregunta : ¿ qué piensa de los matrimonios entre personas homosexuales y de la adopción de niños por su parte ? » Trato del tema precisamente en mi ensayo. En pocas palabras, no soy favorable al matrimonio entre personas homosexuales, ni a la adopción de hijos por ellas. En ambos casos, es en nombre del respeto a la diferencia entre los sexos (la que consolida la unión de amor verdadero) y a la realidad de la familia, que defiendo este punto de vista. Ojo : cuando digo esto, quiero advertirte con insistencia contra una sacralización natalista de la procreación, o contra una idealización de la diferencia entre los sexos. No basta con que los niños existan físicamente, o que una pareja esté formada por una mujer y un hombre, para que haya amor real. No sólo tiene que estar presente la diferencia entre los sexos, sino que también aquella ha de ser coronada por un deseo verdadero y libre entre dos personas diferentemente sexuadas, y luego por la acogida de niños, para poder hablar realmente de amor y de familia.

 

« Disculpe porque me doy cuenta de que le acabo de someter una verdadera entrevista. Eso muestra cuan grande es mi ignorancia en cuanto a este tema. Le agradezco de todo corazón por su cooperación. A la espera de noticias suyas, que Dios le bendiga. Paula »

 

Paula, quiero darte las gracias calurosamente por haberme dado la oportunidad, a través de tu correo lleno de preguntas, de abordar cuestiones centrales sobre la homosexualidad. Tus preguntas atestiguan en ti de una fe muy viva, justa, incisiva, en marcha, fértil. ¡ Genial ! Me has hecho las buenas preguntas, y me permites expresar con palabras más sencillas lo que me habita desde hace mucho tiempo y que no había nunca formulado de esta forma. Hace 2 años, después de la lectura mi libro, un amigo de mi familia, un sacerdote ya mayor, me sugirió escribir un fascículo que propondría consejos prácticos para la acogida de las personas homosexuales por la Iglesia. Y tengo la impresión de que, gracias a tus interrogaciones, su deseo se ha cumplido. Es impresionante ver cómo el simple tema de la homosexualidad es por sí solo factor de discordia, de divisiones internas/externas, y de distanciamiento de la Iglesia. Ya lo he comprobado muchas veces con los recién adultos católicos presentes en nuestras iglesias. Entonces has llegado directamente al grano. Mil gracias. Por lo tanto, me gustaría mucho publicar en el sitio internet de mi libro nuestra entrevista que te mando ahora. ¿ Me lo permites ? Dios, que es todopoderoso, te bendiga. Tu (ya) hermano Philippe.

 
 
N.B. : Amigos lectores de lengua española, encontrarán todas las reacciones (desgraciadamente en francés…) a esta carta así como mis respuestas, en el sitio Padreblog.fr. Es uno de los artículos más leídos. ¡ Agradezco al padre Pierre-Hervé Grosjean y a sus compadres sacerdotes !